Tudo sobre a queda e ascensão gloriosa do Aston Villa até levantar a Copa da Europa (atual UEFA Champions League) em Roterdã, em 1982, e imortalizando os nomes de Tony Morley e Peter White.
O final da década de 70 e o início da de 80 foram uma época de sucesso sem precedentes para os clubes ingleses na Europa.
Tudo começou em 1976, com o Liverpool vencendo a Copa da UEFA (atual Liga Europa), antes de conquistar Copa da Europa (atual UEFA Champions League) em 1977, 1978, 1981 e 1984. Por sua vez, o Nottingham Forest foi bicampeão (1979 e 1980), enquanto o Ipswich Town e o Tottenham venceram as Copas da UEFA de 1981 e 1984, respectivamente.
Em 1982, foi o Aston Villa que ocupou o centro do palco, em uma noite mágica, resultado de anos de trabalho árduo, que começou no verão de 1974.
O clube de Birmingham, regular de longa data na primeira divisão inglesa, foi rebaixado em 1967, e a má gerência fora do campo levou a que, três anos depois, eles fossem rebaixados novamente.
Embora o Villa não tenha conseguido se recuperar imediatamente, venceu a Terceira Divisão na segunda tentativa, sob o comando de Vic Crowe, que foi demitido após uma segunda tentativa fracassada de chegar à primeira divisão, terminando em 14º lugar.
Ele seria substituído por Ron Saunders no verão de 1974, quando tudo começou a mudar no Villa Park. Sua primeira temporada foi um sucesso notável, terminando como vice-campeão da divisão e como maior artilheiro, com 79 gols, além de conquistar a Copa da Liga Inglesa.
Esse seria o início da reconstrução do Aston Villa, que o levaria ao título de campeão inglês em 1981 e a rei da Europa em 1982.
A vitória na Copa da Liga Inglesa de 1977 daria aos Villans o segundo gostinho do futebol europeu, aventurando-se na Copa da UEFA. A equipe de Saunders venceu o Fenerbahçe, o Gornik Zabrze e o Athletic Bilbao para chegar às quartas de final contra o Barcelona, que contava com os lendários Johan Cruyff e Johan Neeskens. Após estar vencendo por 3 a 2 no placar agregado a 25 minutos do fim do jogo, o Villa seria eliminado por 4 a 3.
Apesar de perderem um de seus jogadores mais importantes - Andy Gray, a temporada 1979/80 veria a briga pelo título tomar forma. Nesse ano, o Villa terminou em um respeitável sétimo lugar em 1980, mas com apenas 51 gols em 42 jogos, era claro que o time precisava de um goleador.
Entrava: Peter Withe.
Por incrível que pareça, o Villa conquistou o título com apenas 14 jogadores. Quase todas as semanas, o mesmo elenco: Rimmer no gol, Swain, McNaught e Evans na defesa, com Williams ou Gibson na ala esquerda; Mortimer, Cowans e Bremner no meio-campo, com Morley, Shaw e Withe no ataque.
O Villa marcou mais 21 gols naquela temporada, com o recém-contratado Withe anotando 20, enquanto a equipe de Saunders conquistava o primeiro título em mais de 70 anos e garantia sua vaga na Copa Europeia.
No primeiro jogo do Aston Villa na Copa da Europa, o time goleou o fraco Valur, da Islândia. Mas teve um teste muito mais difícil na segunda rodada, contra o campeão da Alemanha Oriental, o BFC Dynamo, mas conseguiu vencer por 2 a 1.
Morley marcou um gol de voleio logo no início do jogo, mas o Villa foi obrigado a recuar após o intervalo. O Dynamo ganhou um pênalti no final do jogo, que acertou a trave, e Rimmer defendeu o rebote, enquanto Morley avançava pelo outro lado para selar uma vitória memorável.
No jogo de volta, os visitantes venceram por 1 a 0, com o Villa avançando por vantagem de gols fora de casa.
O clube seria abalado, no entanto, pela saída de Saunders, que deixou o cargo após uma disputa contratual, deixando o assistente técnico Tony Barton no comando pelo resto da campanha.
Depois de um empate sem gols na URSS, com o Dynamo Kyiv, a tarefa do Villa era simples para o jogo de volta: vencer. Shaw abriu o placar em um chute de um ângulo incrivelmente apertado e McNaught marcou de cabeça o segundo gol da vitória do Villa.
Lentamente os Lions estavam calando os críticos que haviam descartado o time e dito que eles seriam incapazes de repetir os feitos heroicos do Liverpool e do Nottingham Forest.
Na semifinal eles enfrentaram o Anderlecht, que havia derrotado a Juventus de Dino Zoff e Marco Tardelli nas oitavas. Na ida, em casa, o Villa venceu por 1 a 0 em uma noite frustrante devido à abordagem ultra-defensiva dos belgas, que tinam esperanças de virar o resultado em casa, mas não conseguiram derrubar os Leões. O empate em 0 a 0 garantiu ao Aston Villa uma vaga na final, contra o gigante Bayern de Munique, comandado pelo zagueiro Paul Breitner.
Para vencer em Roterdã, o Villa precisaria apresentar o melhor nível de todas as qualidades que havia demonstrado ao longo de sua trajetória até a final: defesa organizada na retaguarda, finalização certeira no ataque e resiliência de toda a equipe.
Porém, com menos de 10 minutos de jogo, Rimmer, que havia feito várias defesas importantes na campanha, sofrendo apenas um gol, foi forçado a sair por lesão. Seu substituto, Nigel Spink, tinha feito apenas um jogo na equipe principal, e aos 23 anos teria a tarefa de manter Karl-Heinz Rummenigge - vencedor da Bola de Ouro nos últimos dois anos - à distância.
O Villa fez sua parte no primeiro tempo, mas o Bayern começou a mostrar seu domínio com o passar do jogo. Spink foi forçado a fazer várias defesas, salvando até um chute em cima da linha. O Villa estava afundando, e o Bayern parecia ter mais chances. E então...
Morley, que havia sido fundamental para a campanha do Villa na Copa com um gol na primeira fase, e marcando os únicos gols do Villa na segunda rodada e na semifinal, viraria os zagueiros do Bayern do avesso para dar a Withe um toque na bola.
“Shaw... Williams pronto para se aventurar pela esquerda. Há uma grande bola tocada para Tony Morley. Deve ser! É! Peter Withe!” - As palavras de Brian Moore, imortalizadas em faixas ao redor do Villa Park, no momento em que o homem cujos gols levaram o clube ao título da liga e à Europa, marcava o gol da vitória na final da Copa da Europa.
O Bayern tentou empatar, tendo um gol anulado por fora de jogo na reta final da partida, mas o Villa resistiu firme.
Dez anos após atingir seu ponto mais baixo, na terceira divisão da Inglaterra, o Villa alcançou seu auge. A melhor noite de sua história. Aston Villa, campeão da Europa.