Com o fortalecimento da Liga Saudita, os principais clubes do país buscam a supremacia na Liga dos Campeões da Ásia.
Em certas competições continentais entre clubes é inegável a hegemonia de determinado país sobre os demais. Basta verificar a lista de vencedores da Liga dos Campeões da Concacaf (dominada pelos mexicanos) ou da Liga dos Campeões da CAF (dominada pelos egípcios).
Nunca foi esse o caso da Liga dos Campeões da AFC, marcada pela alternância de poder entre sul-coreanas, japonesas e sauditas. Mas os recentes investimentos feitos pelo Fundo Soberano da Arábia Saudita nos principais clubes do país pode marcar o início de uma nova era.
Os sauditas tomam a dianteira
Tivemos um prenúncio do que se esperava para a Liga dos Campeões da Ásia na Copa dos Campeões Árabes finalizada em agosto passado. Também essa competição sempre foi marcada por equilíbrio de forças, mas em 2023 as tradicionais equipes egípcias, marroquinas e tunisianas não tiveram chances contra as sauditas. Na final vimos o Al-Nassr derrotar o Al-Hilal, e os demais representantes do país (Al-Ittihad e Al-Shabab) foram eliminadas por equipes conterrâneas.
Quanto à Liga dos Campeões da AFC 2023–24, sua fase de grupos começou em setembro e termina em dezembro. E, embora apenas o primeiro colocado de cada grupo tenha presença garantida nas oitavas de final, a única das quatro equipes sauditas que corre grande risco de não avançar para os mata-matas é o modesto Al-Fayha. Já o Al-Hilal, o Al-Ittihad e o Al-Nassr lideram seus grupos (ainda que, desses, apenas o Al-Nassr tenha 100% de aproveitamento após quatro rodadas).
Em sua fase final, o principal torneio entre clubes do continente asiático segue fórmula de disputa familiar aos que acompanham os play-offs da NBA: a divisão entre o Oeste e o Leste. no caso da AFC, o Oeste é onde estão países como Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes e Irã; o Leste é onde estão países como China, Japão, Coreia do Sul e Tailândia. Isso significa que podemos ter no máximo dois representantes sauditas nas semifinais. Que outras equipes sonham em ir longe nessa disputa?
Al-Ain
O Al-Ain, dos Emirados Árabes, conquistou a Liga dos Campeões uma vez e foi vice-campeão em duas ocasiões. Conhecida como o líder, essa equipe treinada pelo holandês Alfred Schreuder lidera o grupo A e já chegou às redes adversárias quatorze vezes (3,5 gols por jogo). Entre seus principais jogadores estão o meia paraguaio Kaku, o ponta marroquino Soufiane Rahimi e o centroavante togolês Kodjo Fo Doh Laba.
Persepolis
O Persepolis, do Irã, jamais conquistou a Champions da AFC, mas foi vice-campeão em 2018 e 2020. Sob o comando de Yahya Golmohammadi, os vermelhos encontram-se em segundo lugar no grupo E. À sua frente está o Al-Nassr, para o qual perderam em casa por 2 x 0. Esta equipe de Teerã (a única ainda invicta na atual Liga do Golfo Persa) tem no goleiro Alireza Beiranvand e no ponta Saeid Sadeghi duas peças importantes.
Pohang Steelers
O Pohang Steelers, da Coreia do Sul, conquistou por três vezes a Liga dos Campeões. (Apenas o Al-Hilal, com quatro títulos, está à sua frente nesse ranking.) Quem o comanda à beira do campo é o seu ex-meio-campista Kim Gi-dong, e quem mais se destaca dentro de campo é o atacante Zeca. Este não muito conhecido brasileiro de 26 anos tem seis participações diretas em gols no torneio (três tentos e três assistências).
Kawasaki Frontale
O Kawasaki Frontale, do Japão, nunca chegou sequer a uma final do principal torneio entre clubes asiáticos. Na J.League 2023 a equipe não tem ido muito bem (é apenas a nona colocada), mas na Champions League os pretos e azuis apresentam 100% de aproveitamento. O comando técnico é do seu ex-meio-campista Toru Oniki, e entre seus jogadores mais importantes está o meio-campista Yasuto Wakizaka.
Outras equipes fortes
Destacamos apenas quatro equipes, mas estaríamos cometendo uma injustiça se pelo menos não mencionássemos outras três.
Os japoneses do Urawa Red Diamonds, cujo técnico é o polonês Maciej Skorza, são os atuais campeões e merecem respeito ainda que estejam atrás do Pohang Steelers no grupo J.
Os emiradenses do Sharjah, que estão sob o comando técnico do romeno Cosmin Olaroiu, se distinguem por liderar de forma isolada o grupo A e por terem sofrido apenas um gol.
Os tailandeses do Bangkok United, treinados por Totchtawan Sripan, surpreendem ao liderar um grupo (o F) no qual também encontram-se os sul-coreanos do Jeonbuk Hyundai Motors.
As grandes decepções
Os representantes do Catar costumam estar entre os candidatos ao título na Liga dos Campeões, mas em 2023–24 o roteiro tem sido diferente.
Causa-nos estranheza ver o Al-Duhail em último lugar no grupo E, ainda que este seja o mesmo grupo de Al-Nassr e Persepolis. Tampouco parece aceitável o desempenho do bicampeão asiático Al-Saad no grupo B, visto que encontra-se atrás tanto do Sharjah quanto dos uzbeques do Nasaf.
Ambas as equipes cataris contam com alguns dos melhores jogadores em atuação na Ásia. (No Al-Duhail atua o meia brasileiro Philippe Coutinho.) Se nenhuma delas sequer passar da fase de grupos, as chances de alguém desbancar os sauditas no Oeste parecerão ainda menores.