Novamente sem um diretor técnico, os principais dirigentes do «furacão» estão diante de uma decisão determinante para o projeto do clube.
No último 16 de junho o Athletico-PR se viu sem seu diretor de futebol, Luiz Felipe Scolari, que desistiu da aposentadoria como técnico para comandar o Atlético-MG. Naquele mesmo dia o clube curitibano demitiu o treinador Paulo Turra (antigo auxiliar de Felipão).
Quem vem comandando os rubro-negros interinamente desde então é Wesley Carvalho. Os dirigentes não têm pressa para encontrar um substituto efetivo de Turra, e deve ser ainda maior o cuidado na escolha de alguém para o cargo antes ocupado por Scolari.
Para entendermos a importância que o Athletico dá ao seu diretor técnico, precisamos falar de Paulo Autuori. O carioca chegou a Curitiba em março de 2016 (após uma passagem de quase doze meses pelo Cerezo Osaka) para exercer a função de treinador mas já planejando a transição para algum cargo de gestão dentro do departamento de futebol.
Estávamos em outubro daquele mesmo ano quando, ainda como técnico do furacão, ele deu uma entrevista ao programa Bola da Vez (ESPN) na qual reafirmou essa intenção. O papel que Autuori exerceria em 2017 faria dele o principal responsável pela adoção de uma filosofia de jogo que contrastava com aquela pela qual o Athletico era conhecido.
Em suas próprias palavras, a ideia era «sair da transição defensiva para ser protagonista, propondo o jogo». Colocando esse desafio em outros termos, tratava-se de passar a adotar um futebol propositivo em vez de reativo. E era fundamental que isso fosse feito desde as categorias de base, «para não ter distinção entre o profissional e outras equipes».
Autuori deixou o clube em novembro de 2017, mas logo viram-se os frutos daquela filosofia. Em abril de 2018 o Athletico conquistou o Campeonato Paranaense com uma equipe de aspirantes (com atletas como o lateral-esquerdo Renan Lodi e o meio-campista Bruno Guimarães) que, sob o comando de Tiago Nunes, praticava um futebol ofensivo.
Na época Fernando Diniz era o técnico da equipe principal, que lutava contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro. Após a demissão do hoje treinador do Fluminense, Nunes foi apontado como o seu sucessor. Com ele os rubro-negros conquistaram pela primeira vez tanto a Copa Sul-Americana, em 2018, quanto a Copa do Brasil, em 2019.
Autuori voltou ao Athletico em outubro de 2020. O anúncio oficial de sua chegada informava que ele seria o «Head Coach (Diretor Técnico) do Departamento de Futebol». Outras expressões às vezes empregadas para designar um papel parecido com ou igual a esse são diretor executivo, diretor de futebol e diretor esportivo.
Como esses termos nem sempre são sinônimos, precisamos entender o que eles representam em cada caso. Vejamos o que a repórter Nadja Mauad (ge) afirmou a respeito de Autuori em dezembro de 2021: «[ele] tem autonomia para planejar e discutir não só contratações mas toda a estrutura de futebol, inclusive a parte técnica e tática».
Naquele momento o técnico rubro-negro, em tese, era Alberto Valentim. Mas o que disse o presidente do clube, Mario Celso Petraglia, quando de sua contratação dois meses antes? «Agora queremos auxiliares [...]. Hoje temos o Paulo Autuori, o nosso Alex Ferguson». Petraglia via Autuori exercendo um papel que na Europa chamam de manager.
Em fevereiro de 2022 Autuori se demitiu, e em abril Valentim foi demitido. Scolari chegaria em maio, a princípio, para exercer apenas a função de diretor técnico; mas, quando o sucessor de Valentim, Fábio Carille, foi demitido depois de três semanas, o gaúcho já chegou ocupando também (ainda que interinamente) a função de técnico.
A impressão era de que Felipão estava entrando em uma «barca furada». Quem esperaria que em outubro o Athletico disputaria a segunda final de Copa Libertadores em sua história? E, ao terminar em sexto lugar na Série A, o rubro-negro obteve a classificação direta à edição deste ano do principal torneio entre clubes da Conmebol.
Para 2023 confirmou-se Scolari como diretor técnico e o até então auxiliar Paulo Turra como técnico. Foi assim que o furacão venceu o Campeonato Paranaense, classificou-se às quartas de final da Copa do Brasil, classificou-se às oitavas de final da Copa Libertadores e terminou a décima rodada do Campeonato Brasileiro a dois pontos do G4.
Embora os resultados fossem inquestionavelmente bons, a torcida se sentia incomodada pelo que entendia ser um futebol demasiado defensivo. Aliás, àquela altura nem havia mais um modelo a seguir. Como disse Scolari após a vitória em Assunção sobre o Libertad pela terceira rodada da Libertadores, «o objetivo final é mais importante que jogar bem».
A saída de Felipão despertou mágoa em Alexandre Mattos, executivo de futebol do furacão. Mas, tanto para ele quanto para os outros homens que vêm administrando o clube desde o recente afastamento de Petraglia por questões de saúde, o vazio deixado pelo gaúcho lhes permitirá reavaliar seus valores e definir o rumo a seguir daqui em diante.
Por mais que seja possível alcançar grandes feitos com qualquer estilo de jogo, quando se busca valorizar a formação dos atletas é fundamental que haja alinhamento entre a base e os profissionais. O Athletico se pretende um clube de vanguarda e um exemplo de profissionalismo e modernidade. Esse é o momento para reafirmar tal visão.