Ao começar o Campeonato Paulista com um desempenho muito aquém do esperado, o Santos evocou os piores temores de sua torcida.
[Artigo originalmente publicado em 19 de fevereiro de 2023.]
Dos mais tradicionais clubes do Brasil apenas três podem se gabar de nunca terem sido rebaixados para a segunda divisão nacional: Flamengo, São Paulo e Santos.
Mas, a julgar pelas últimas temporadas do Peixe, não será surpresa para ninguém se 2023 entrar para a história como o mais melancólico dos anos do Alvinegro Praiano.
Após terminar a última Série A em 12.º lugar, o Santos anunciou Paulo Roberto Falcão como coordenador técnico. A chegada de um profissional que entende de futebol serviu para dar esperanças a seus torcedores de que reforços de qualidade estariam a caminho.
Antes era preciso definir quem seria o novo treinador. (O time terminou a temporada passada sob o comando do interino Orlando Ribeiro.) E o escolhido foi Odair Hellmann, mais conhecido pelo bom trabalho feito à frente do Fluminense em 2020.
Para a frustração da torcida, não houve contratações de impacto para este início de 2023. Aquela que gerou mais expectativa foi a do atacante colombiano Stiven Mendoza, que em 2022 marcou 20 gols e deu 3 assistências nas 53 vezes em que atuou pelo Ceará.
A favor da diretoria pode ser dito que permaneceram no elenco a maioria dos atletas mais importantes. Entre eles o goleiro João Paulo, o atacante venezuelano Yeferson Soteldo e o atacante Marcos Leonardo. Seria isso o bastante para realizar um bom início de ano?
Em 14 de janeiro, pela primeira rodada do Campeonato Paulista, o time superou por 2 x 1 o Mirassol na Vila Belmiro. Por se tratar apenas da estreia na temporada, as dificuldades em obter essa vitória de virada em casa foram relevadas.
Mas a cada nova partida foi-se tornando mais difícil tolerar o que se viu em campo. Após a derrota para o Guarani pela segunda rodada (2 x 1), vieram empates com o São Bernardo (1 x 1), o Água Santa (0 x 0) e a Ferroviária (1 x 1).
Além de conquistar apenas seis pontos de quinze possíveis nesses cinco primeiros compromissos pelo campeonato estadual (40% de aproveitamento), a equipe marcou meros quatro gols e sofreu cinco. (E só não foi vazada uma vez.)
Esses números ecoaram os piores temores dos torcedores santistas, que não ignoram o fato de que nos dois últimos anos o clube lutou para não ser rebaixado tanto no Brasileirão (em 2021) quanto no Paulistão (em 2021 e em 2022).
Daí o porquê de, dois dias antes do clássico com o Palmeiras pela sexta rodada, membros de uma das torcidas organizadas terem invadido o CT Rei Pelé para protestar e cobrar mudanças de gestão por parte do presidente Andres Rueda.
Essa mobilização de torcedores não parece ter surtido efeito imediato. Na partida que se seguiu (realizada no Morumbi), o Verdão venceu por 3 x 1 de forma aparentemente trivial (ainda mais porque o gol de honra foi marcado nos acréscimos).
Não há como ignorar o aspecto técnico da crise. Marcos Leonardo, que foi o artilheiro santista na temporada anterior com 21 gols (além de seis assistências), na atual temporada marcou apenas uma vez (contra o Mirassol, no mesmo jogo em que perdeu um pênalti).
Tampouco vêm inspirando confiança os jogadores mais utilizados na lateral direita, na zaga e no meio de campo ofensivo. O clube até trouxe de volta o meia Lucas Lima semana passada, mas a torcida cobrará a vinda de outros nomes de valor para a disputa da Série A.
Feitas essas considerações, os problemas mais evidentes dizem respeito a lesões. Jogadores como o volante uruguaio Rodrigo Fernández, o meia argentino Gabriel Carabajal e o já citado Soteldo vêm sendo ausências muito sentidas por Hellmann.
Tudo isso faz com que o atual técnico santista tenha enorme dificuldade para repetir o time titular entre um jogo e outro e, consequentemente, entrosar os seus jogadores. A essa altura não seria de espantar se nem mesmo ele soubesse dizer qual é o seu onze ideal.
As dificuldades que o Santos enfrenta no Campeonato Paulista são preocupantes principalmente por conta do que está por vir: com os retornos de Bahia, Cruzeiro, Grêmio e Vasco à elite nacional, a Série A de 2023 tem tudo para ser bem mais difícil que a anterior.
Uma possibilidade controversa de fazer caixa para trazer reforços de peso seria a venda de Ângelo. O atacante de 18 anos (que foi xingado por um torcedor mês passado) pode ir para o Flamengo em troca de dinheiro e do retorno do também atacante Marinho.
Por ainda faltarem cerca de dois meses para o início do próximo Brasileirão, em tese há tempo para pôr os ânimos no lugar e superar a crise. A essa altura poucos no Peixe pensam em títulos; o essencial é terminar o ano sem maiores sobressaltos.
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