Os campeonatos estaduais enfrentam o desafio de continuar a existir sem sobrecarregar o calendário dos principais clubes brasileiros.
[Artigo originalmente publicado em 16 de agosto de 2022.]
A cada ano, os campeonatos estaduais só fazem perder prestígio perante jogadores, treinadores, dirigentes, jornalistas e torcedores.
Fala-se até no fim de tais torneios — visto que o calendário das grandes equipes já é tido como bastante dilatado.
A atual fórmula de disputa do Campeonato Cearense, porém, nos mostra que uma medida drástica como essa talvez não seja necessária.
Celso Roth, que treinou Grêmio e Internacional em diferentes momentos, disse que o Campeonato Gaúcho só vale quando se perde.
A lógica é de que, devido às evidentes diferenças de investimento entre a dupla Grenal e os demais clubes do Rio Grande do Sul, a baixa competitividade do campeonato estadual torna o título quase uma obrigação para os dois grandes.
Não é uma situação muito diferente da que se vê no Campeonato Baiano, onde Bahia e Vitória enfrentam equipes de muito menor expressão.
Daí o porquê de os grandes baianos priorizarem no primeiro trimestre do ano a muito mais rentável Copa do Nordeste, onde enfrentam outros clubes grandes de seus respectivos estados.
Quem mais vem tirando proveito desse descaso da dupla Ba-Vi em relação ao estadual é o Atlético de Alagoinhas, campeão baiano de 2021 e 2022.
Já o Campeonato Cearense continua sendo dominado pelos seus maiores clubes, Ceará e Fortaleza — muito embora ambos também priorizem a Copa do Nordeste.
Boa parte da diferença entre esses dois estaduais nordestinos reside nos seus próprios formatos de disputa.
O Campeonato Baiano consiste em uma primeira fase na qual os seus dez clubes se enfrentam em turno único. Os quatro primeiros se classificam às semifinais, disputadas em jogos de ida e volta, assim como as finais.
Isso significa que os dois finalistas participam de treze partidas ao todo (nove na primeira fase, duas nas semifinais e duas nas finais).
No Campeonato Cearense, há alguns anos o que acontecia era que clubes vindos da primeira fase se juntavam a Ceará e Fortaleza na segunda, disputada em turno único. Os quatro primeiros avançavam ao mata-mata das semifinais, e dali para as finais.
Em 2022, a fórmula mudou: na primeira fase, oito clubes jogaram entre si em turno e returno. Os dois primeiros se classificaram às semifinais, enquanto o terceiro e o quarto chegaram às quartas de final, onde Ceará e Fortaleza os aguardavam.
A decisão foi entre Caucaia e Fortaleza. Ao todo, os primeiros disputaram dezoito jogos (quatorze na primeira fase, dois nas semifinais e dois nas finais).
O Fortaleza, por sua vez, conquistou o título cearense (pelo quarto ano consecutivo) tendo disputado apenas seis jogos.
Em outras palavras, o Tricolor do Pici foi campeão estadual com doze jogos a menos que o vice-campeão.
Seria essa uma fórmula injusta?
A atual fórmula do Campeonato Cearense pode ser comparada com a do Mundial de Clubes.
Nesta competição, os representantes da UEFA e da Conmebol entram nas semifinais, e os das demais confederações (exceto o da OFC) nas quartas de final.
No entanto, nas dezoito edições do Mundial, os sul-americanos foram campeões apenas quatro vezes — a última em 2012.
Por que esse os campeões da Copa Libertadores são tratados de forma diferente?
Por tradição. Antes da Copa do Mundo de Clubes, havia a Copa Intercontinental, disputada apenas entre europeus e sul-americanos.
Como, no entanto, a tradição é um critério um tanto frágil no esporte, já há quem questione esse tratamento especial dado ao representante da Conmebol.
No caso do Campeonato Cearense, felizmente, o favorecimento dado aos dois grandes está bem fundamentado em critérios técnicos.
Por estarem na Série A do Campeonato Brasileiro de 2022, Ceará e Fortaleza já se colocam muito acima dos demais clubes cearenses.
Já no caso de estaduais mais competitivos, como o Campeonato Paulista, faríamos bem em nos guiar pelo Ranking Nacional de Clubes, divulgado pela CBF todos os anos.
Em 2022, poder-se-ia ter favorecido os únicos quatro paulistas com no mínimo dez mil pontos: Palmeiras (14.584), Santos (12.816), São Paulo (12.604) e Corinthians (11.064).
O próximo clube de São Paulo nessa lista era o Bragantino (7.789).
Embora os clubes com mais pontos do estado sejam também os mais tradicionais, qualquer outro poderia, em tese, reivindicar um tratamento igual no Paulistão.
Mas, para isso, tal clube precisaria fazer por merecer dentro de campo.
Isso vale tanto para o Bragantino em São Paulo quanto para o Atlético de Alagoinhas na Bahia, o Caucaia no Ceará e tantos outros de menor expressão em seus estados.
Muitas vezes, essa separação parecerá impossível de ser transposta. Ainda assim, estabelecê-la talvez seja a única maneira de tornar os estaduais sustentáveis.
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