A equipe com mais brasileiros na Liga Saudita 2023–24 é também a que mais vem excedendo as expectativas.
A atual edição da Liga Profissional Saudita entrará para a história pelas contratações de impacto feitas pelos quatro grandes do país: Al-Ahli, Al-Ittihad, Al-Hilal e Al-Nassr.
Isso tornou ainda menos provável a possibilidade de qualquer um dos outros quatorze participantes da competição (alguns deles também bastante tradicionais) lutar pelo título.
É de admirar, portanto, que o Al-Taawoun venha se afirmando como candidato a zonas continentais. E essa boa campanha dos lobos é marcada por distinto toque brasileiro.
Quem é quem na revolução saudita
Em junho deste ano, o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita (o mesmo que dois anos atrás tomou posse do Newcastle United) adquiriu 75% dos quatro clubes citados no primeiro parágrafo deste artigo.
Ter isso em mente é o primeiro passo para entendermos a tabela abaixo. Nela veem-se as avaliações do site Transfermarkt quanto aos valores de mercado dos dezoito participantes da Liga Saudita 2023–24 neste início de outubro.
equipe | valor de mercado (milhões de euros) |
---|---|
Al-Hilal | 257,40 |
Al-Ahli | 200,98 |
Al-Nassr | 195,56 |
Al-Ittihad | 133,23 |
Al-Shabab | 69,45 |
Al-Ettifaq | 66,80 |
Al-Taawoun | 34,79 |
Al-Fayha | 30,30 |
Abha | 27,13 |
Al-Fateh | 24,78 |
Al-Riyadh | 21,23 |
Damac | 20,34 |
Al-Tai | 17,30 |
Al-Okhdood | 17,28 |
Al-Raed | 17,08 |
Al-Hazem | 17,00 |
Al-Wehda | 16,05 |
Al-Khaleej | 15,06 |
Os números falam por si, mas o dado que apresentamos em seguida os resume bem. Ainda segundo o Transfermarkt, o atacante brasileiro Neymar (Al-Hilal) tem seu valor de mercado avaliado em 60 milhões de euros.
Em outras palavras: o hoje camisa 10 das ondas azuis vale mais do que todo o elenco de doze equipes da Liga Saudita. Nessa lista está incluída o Al-Taawoun, sobre o qual falaremos com mais detalhes a partir de agora.
Um brasileiro no comando técnico
A Arábia Saudita sempre foi um dos principais destinos para técnicos brasileiros. Basta dizer que doze homens nascidos por aqui já treinaram a seleção dos falcões verdes, incluindo Zagallo (1982–84) e Carlos Alberto Parreira (1988–90 e 1998).
Isso se aplica também ao futebol de clubes. Dois anos atrás, por exemplo, ainda era possível ver Fábio Carille no Al-Ittihad e Mano Menezes no Al-Nassr. Mas, na atual Primeira Divisão, encontramos apenas um treinador: Péricles Chamusca.
Este soteropolitano de 58 anos (irmão do também técnico Marcelo Chamusca) já se encontra em seu quarto clube no país. Antes pudemos vê-lo no Al-Faisaly (2018 a 2021), no Al-Hilal (2019, por empréstimo) e no Al-Shabab (2021 a 2022).
Péricles está no Al-Taawoun desde junho de 2022. Esse é um fato notável se levarmos em conta que, num estudo de 2020 do CIES Football Observatory, a Liga Profissional Saudita ocupava a terceira posição no ranking relativo a mais trocas de treinadores.
Os principais jogadores
Tendo falado do comando técnico, falemos de atletas. Abaixo vê-se aquele que parece ser o time-base do Al-Taawoun hoje:
Mailson;
A. al-Oyayari, Andrei Girotto, W. al-Ahmed e M. Faqeehi;
Flávio Medeiros, Aschraf el-Mahdioui e Álvaro Medrán;
Mateus Castro, João Pedro e Musa Barrow.
Não é coincidência que em cada setor haja pelo menos um brasileiro. No ano passado chegaram Mailson (vindo do Sport) e Flávio Medeiros (por empréstimo do Trabzonspor).
Em agosto deste ano chegaram Andrei Girotto (Nice) e Mateus Castro (Nagoya Grampus). E já estávamos em setembro quando chegou João Pedro (Al-Wahda dos Emirados Árabes).
Desses cinco, quem mais vem se destacando talvez seja o ponta-direita Mateus. Tendo sido titular nas nove rodadas já disputadas, ele marcou dois gols e deu quatro assistências.
Mas, considerando que o Al-Taawoun só perde para o Al-Ittihad no quesito menos gols sofridos (sete), como ignorar o goleiro Mailson, o zagueiro Andrei e o volante Flávio?
E o que dizer do centroavante João Pedro? Por ter sido o último a chegar, ele conta com apenas quatro partidas pelo Campeonato Saudita; mas isso bastou para marcar três vezes.
Há outros três titulares estrangeiros. No meio da temporada 2021–22 chegaram os meio-campistas El-Madhioui (holandês mas filho de marroquinos) e Medrán (espanhol).
E em setembro passado tornou-se oficial a grande contratação do Al-Taawoun para 2023–24: o atacante Barrow (gambiano), comprado do Bologna por 8 milhões de euros.
Com o que sonham os lobos?
Ontem chegou ao fim a 9.ª rodada (de um total de 34) da Liga Saudita. O Al-Taawoun é o segundo colocado, com 22 pontos (2,45 por jogo). O líder é o Al-Hilal, com um ponto a mais.
Apesar de na classificação estarem muito próximos da equipe comandada por Jorge Jesus, no mercado «Vencedor Final» os homens de Chamusca encontram-se bastante atrás.
equipe | «Vencedor Final» |
---|---|
Al-Hilal | 2,10 |
Al-Ittihad | 3,80 |
Al-Nassr | 4,50 |
Al-Ahli | 7,00 |
Al-Taawoun | 13,00 |
Como vimos quando comparamos o valor de mercado das equipes, o título é mesmo improvável para o Al-Taawoun. Mas e quanto à participação em competições continentais?
Também aí a situação é complicada para os lobos. Apenas os dois primeiros do Campeonato Saudita se classificam à Liga dos Campeões da AFC (Confederação Asiática de Futebol).
Além disso, apenas o terceiro chega à Copa da AFC (que a partir de 2024–25 se chamará Liga dos Campeões 2). Existe, porém, outra possibilidade de disputar essa competição.
Essa outra possibilidade consiste em vencer a Copa do Rei. É uma missão difícil, mas Chamusca a conquistou em 2021 com o Al-Faisaly (uma equipe menor que o Al-Taawoun).
E que não se duvide da capacidade deste baiano conquistá-la pela segunda vez. Existe algo impossível para um homem que venceu a Copa do Brasil de 2004 com o Santo André?
As cotações aqui apresentadas estão sujeitas a flutuações.