Para voltar a vencer um grande troféu, o «alvinegro belo-horizontino» aposta na continuidade.
Com Luiz Felipe Scolari no comando, um elenco muito parecido com o do fim de 2023 e o anúncio de um dos principais reforços desta primeira janela de transferências de 2024, o Atlético Mineiro parece à altura de suas elevadas ambições.
Parece-nos que nenhum outro clube dos tradicionais doze grandes do Brasil mudou tão pouco o seu elenco quanto o Atlético Mineiro. Todos os habituais titulares permaneceram na Cidade do Galo, e saíram apenas o lendário zagueiro Réver (que se aposentou dos gramados e agora é coordenador de transição do clube) e o meia Hyoran (hoje no Internacional).
Antes da estreia no Campeonato Mineiro, em 23 de janeiro, apenas um reforço havia sido anunciado. Mas foi um reforço e tanto: Gustavo Scarpa. O meia de 30 anos vem de um ano com poucas oportunidades no Nottingham Forest (que o emprestou ao Olympiacos); por aqui, no entanto, segue viva a lembrança de ter sido o craque da Série A 2022 a serviço do Palmeiras.
Naquela edição do Campeonato Brasileiro, Scarpa tornou-se o protagonista no porco de Abel Ferreira devido à lesão de Raphael Veiga. No galo de Scolari (com quem trabalhou entre 2018 e 2019) ele chega como o dono das bolas paradas alçadas à área e como o principal líder das ações ofensivas a fim de municiar a dupla de ataque Paulinho e Hulk.
Hulk tende a se beneficiar muito à medida que Scarpa ganhar mais entrosamento com seus novos companheiros. Na Série A 2023, o camisa 7 terminou em segundo lugar no ranking de participações diretas em gols (quinze tentos e onze assistências); no entanto, quem terminou no topo do ranking de goleadores foi justamente Paulinho (vinte tentos).
Agora o alvinegro belo-horizontino tem um especialista em assistências. Scarpa terminou como o líder nesse quesito do Campeonato Brasileiro não apenas em 2022 mas também em 2021 (em ambos os anos com treze passes para gol). Desde já o consideramos um dos favoritos a terminar no topo desse ranking em 2024, dado o poderio ofensivo atleticano.
E ainda há Matías Zaracho. Ano passado o meia argentino, hoje com 25 anos, foi titular em 77% das partidas que disputou (34/44) mas perdeu dezessete compromissos devido a diferentes problemas de ordem física. Se conseguir se manter em condições de jogo durante a maior parte dos próximos dez meses, pode ter um ano tão bom quanto o de 2021.
Assim como Flamengo e Palmeiras, o Atlético é comumente tido como uma equipe cujo elenco lhe permite sonhar em vencer mais de uma das principais competições do calendário. Entre os reservas de Scolari há os zagueiros Bruno Fuchs e Igor Rabello, o volante argentino Rodrigo Battaglia, o meia Igor Gomes, o ponta Pedrinho e o centroavante Alan Kardec.
Fuchs e Rabello são as opções para quando Maurício Lemos e/ou Jemerson for desfalque; Battaglia é alternativa a Otávio mas também ao polivalente Edenilson; Igor Gomes pode jogar no lugar de Scarpa ou de Zaracho; Pedrinho é o mais provável substituto de Paulinho; e Alan Kardec pode ser escalado quando se quiser preservar Hulk (que já está com 37 anos).
De todos os que não integram o time-base alvinegro, quem mais chama a atenção é o meia/atacante Cristian Pavón. O argentino perdeu a titularidade a partir da 27.ª rodada da última Série A, mas ainda assim deu oito assistências (menos apenas que Hulk e o uruguaio Luis Suárez, do Grêmio). Esse registro não pode ter passado despercebido a Felipão.
Na visão do departamento de futebol (em breve sem o diretor Rodrigo Caetano, que semana passada aceitou o convite para ser diretor de seleções da CBF) entende-se que falta pelo menos um ponta. No último dia 5, o clube anunciou o retorno de Bernard; mas o atleta, hoje com 31 anos, só chega após o término da atual temporada a serviço do Panathinaikos.
Scolari treinou o Athletico que chegou à final da Copa Libertadores 2022; mas, após a última rodada daquela Série A, o gaúcho anunciou a aposentadoria como treinador para assumir o cargo de diretor técnico dos paranaenses. Em 16 de junho do ano passado, o Atlético surpreendeu a todos ao informar que seria ele o sucessor do técnico argentino Eduardo Coudet.
Durante sua primeira coletiva de imprensa de 2024, em 10 de janeiro, Felipão revelou ter um acordo com a família para não mais exercer a função de treinador uma vez terminada a temporada atual. Ciente de que já havia retrocedido nessa promessa, o nativo de Passo Fundo não mostrou convicção quanto a mantê-la: «pode ser que um dia mude, né?».
Em quatro décadas como treinador, Scolari conquistou por mais de uma vez o Campeonato Brasileiro, a Copa do Brasil e a Copa Libertadores; aposentar-se sem pelo menos mais um desses troféus seria frustrante. Mas, antes de pensar nesses sonhos mais altos, o galo tem um objetivo nada desprezível até o início de abril: vencer o quinto Campeonato Mineiro seguido.