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Mattos, 777 e o futuro do Vasco

Um dos diretores de futebol mais prestigiados do país tem no Vasco um dos maiores desafios da carreira.

Na condição de diretor-executivo de futebol do Vasco, Alexandre Mattos vem buscando tornar a equipe novamente digna do apelido gigante da colina. Mas o ritmo de Mattos parece não estar em harmonia com o dos americanos da 777 Partners, detentora de 70% das ações da SAF.

Baixas na guerra pela permanência

Em 2023 o Vasco apresentou desempenho satisfatório na fase de grupo do Campeonato Carioca, visto que venceu dois dos três clássicos; porém, a equipe perdeu para o Flamengo nos dois jogos das semifinais. Além disso, caiu nos pênaltis perante o ABC na segunda fase da Copa do Brasil. Como seria o retorno ao primeiro escalão do Campeonato Brasileiro?

O corvo passou a maior parte do torneio entre os quatro últimos na classificação e precisou vencer na rodada final para não ser rebaixado. Todos os bodes expiatórios da imprensa e da torcida iriam embora antes do fim do ano: em junho foi-se o técnico, Maurício Barbieri; em julho o CEO da SAF, Luiz Mello; e em dezembro o diretor-esportivo, Paulo Bracks.

A chegada do salvador da pátria

Quando, ainda em dezembro, anunciou-se Alexandre Mattos como o sucessor de Bracks, a torcida sonhou alto. Mattos é considerado o grande arquiteto na formação do elenco do Cruzeiro campeão da Série A em 2013 e 2014 e do Palmeiras campeão da Série A em 2016 e 2018. Mais recentemente, com o Athletico, foi vice-campeão da Copa Libertadores 2022.

Se tivesse a mesma autonomia que teve nos clubes acima citados, o atual diretor-executivo de futebol do Vasco poderia em pouco tempo montar uma equipe candidata ao G4 do Campeonato Brasileiro. Mas, se se repetisse a falta de autonomia de sua breve passagem pelo Atlético Mineiro (2020–21), esse novo desafio seria marcado por decepções.

Primeiro sinal de desconforto

Desde o fim da temporada passada até ao início deste mês, o gigante da colina já havia anunciado sete novos atletas. Desses, no entanto, apenas o zagueiro João Victor parecia claramente capaz de tornar o time mais forte. É verdade que nesse período também chegou o ponta Adson, mas para suceder a Gabriel Pec (vendido no fim de janeiro).

Treze dias atrás houve a coletiva de apresentação do goleiro Keiller, do lateral-esquerdo Victor Luis e do volante chileno Pablo Galdames. A expectativa em relação a esses reforços ficou em segundo plano porque, na mesma coletiva, Mattos não escondeu a frustração por não ter podido trazer jogadores que desejava: «a palavra final não é minha».

Restou um único alvo para acertar

A partir do momento em que a empresa contrata um profissional do prestígio de Mattos e impõe severas restrições ao seu modus operandi, quem levará a culpa em caso de fracasso nos objetivos da temporada? Lembremos que, hoje, o Vasco tem no argentino Ramón Díaz um treinador de currículo vitorioso e querido pela maior parte da torcida.

Não poderia ser outra a nossa conclusão. Se os camisas negras decepcionarem dentro de campo, o bode expiatório não será o treinador, o diretor-executivo e provavelmente tampouco o CEO (Lucio Barbosa). A torcida apontará o dedo para os atuais investidores. Para sermos mais específicos: Josh Wander, um dos sócios-gerentes da 777 Partners.

Conflitos de interesses

No segundo semestre de 2023, os executivos da 777 viram-se forçados a mudar sua política de contratações ao permitir a chegada de veteranos (como o chileno Gary Medel e o argentino Paulo Vegetti) capazes de liderar o Vasco na quase impossível missão de garantir a permanência na elite.

Mas a empresa segue focada em ter um elenco de baixa média de idade com o intuito de valorizar e vender os jovens. Os dois exemplos mais recentes foram Pec (vendido ao LA Galaxy por 10 milhões dólares) e o meia Marlon Gomes (vendido ao Shakhtar Donetsk por 12 milhões de euros).

Financeiramente não se pode dizer que essa política não venha dando certo. O porém é que o superavit só torna mais intensa a insatisfação com os vetos da 777 aos pedidos de Mattos. Afinal, perguntam-se os torcedores, por que todo esse dinheiro não se traduz num time imponente?

A empresa parece querer administrar o Vasco de uma maneira parecida com a que administra o Genoa. Quem conhece algo de futebol sabe o quão óbvia é a diferença entre os camisas negras e os rossoblù: estes, apesar de tradicionais, não têm a obrigação de lutar por títulos.

O divórcio se aproxima?

Em seus tempos de Cruzeiro, Alexandre Mattos reforçou o clube com jogadores como Ricardo Goulart e Everton Ribeiro; no Palmeiras, trouxe nomes como Dudu, Raphael Veiga, Gustavo Scarpa, Weverton e Gustavo Gómez; no Atlético Mineiro, trouxe atletas como Matías Zaracho e Junior Alonso; no Athletico Paranaense, trouxe Vitor Roque.

Se algum dos atletas que o Vasco trouxe ou trará para 2024 alcançará projeção internacional é cedo para dizer. A grande questão é se a SAF chegará ao fim da temporada com o mesmo diretor-executivo de futebol. Mattos, que define a si próprio como ansioso, pode se cansar e ir embora antes que o clube colha os melhores frutos do seu trabalho.

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