Alguns jogadores que se destacaram por um dos grandes cariocas também brilharam — ainda que brevemente — por outro.
Há muito que deixou de ser incomum ver um atleta que foi ídolo em determinado clube atuar por um rival.
O que distingue os casos abaixo é que os quatro atletas mencionados precisaram de pouco tempo para ganhar a simpatia de seus antigos torcedores adversários.
Tendo sido revelado pelo Sport em 1939, o atacante Ademir chegou ao Vasco em 1942. Com ele, o Gigante da Colina (que não conquistava um título de expressão desde 1936) venceu de forma invicta o Campeonato Carioca em 1945.
Eram os primeiros anos do esquadrão conhecido como Expresso da Vitória, cuja estrela maior era esse pernambucano conhecido como ''Queixada''. E foi então que o treinador do Fluminense na época, Gentil Cardoso, proferiu a célebre frase ''Deem-me Ademir que eu lhes darei o campeonato''.
Dito e feito. No Campeonato Carioca de 1946 Ademir marcou 24 dos 97 gols do Tricolor da Laranjeiras na campanha de seu 15.º título estadual. No Carioca de 1947 ele marcou outros 16 gols; mas, dessa vez, o título foi para o Vasco. O atacante voltou ao Almirante já no ano seguinte.
O controverso Heleno de Freitas foi, na década de 1940, o grande astro do Botafogo e um dos maiores atacantes do Brasil. Apesar disso, não conquistou nenhum título de expressão em seus nove anos (1940 a 1948) no Alvinegro de General Severiano.
Após 233 jogos e 204 gols pelo clube (o que faz dele o seu quarto artilheiro histórico), Heleno transferiu-se para o Boca Juniors. Sua passagem pela Argentina foi breve, visto que já no ano seguinte transferiu-se para o Vasco — que em 1948 havia conquistado o Campeonato Sul-Americano de Campeões.
Em sua nova equipe (onde reencontrou alguns jogadores com quem atuou pela seleção brasileira), Heleno enfim venceu, em 1949, seu primeiro e único Campeonato Carioca. No ano seguinte, o atacante deixou o Vasco, após desentender-se com o seu técnico (que também treinava a seleção), Flávio Costa.
O lateral-direito Carlos Alberto Torres já tinha o carinho da torcida do Fluminense antes de ter feito parte da Máquina Tricolor campeã carioca em 1975 e 1976. Tendo sido revelado pelo clube das Laranjeiras em 1963, o ''Capitão do Tri'' venceu o estadual do ano seguinte.
Foi em 1964 mesmo que se transferiu para o Santos, de onde sairia para retornar à sua primeira casa, em 1974. É de ressaltar, porém, que a passagem do craque pela Vila Belmiro teve um interlúdio em 1971. Nesse ano, os paulistas emprestaram-no ao Botafogo para a disputa do Campeonato Carioca.
O Alvinegro chegou à final daquele estadual, quando foi derrotado justamente pelo Tricolor. Torres foi substituído por contusão ainda no primeiro tempo da partida decisiva, na qual a sua equipe foi derrotada por 1 x 0. Foram apenas três meses como jogador do Botafogo, mas eles bastaram para que o lateral-direito deixasse a sua marca também por lá.
Revelado em 2005 pelo Paraná, o meia Thiago Neves chegou ao Fluminense em 2007. Nesse mesmo ano, foi eleito pela revista Placar o melhor jogador do Campeonato Brasileiro. Em 2008, foi um dos destaques da equipe vice-campeã da Copa Libertadores.
Logo depois, o curitibano foi vendido ao Hamburgo, onde não teve muitas chances. Assim, em 2009 os alemães o venderam ao Al-Hilal da Arábia Saudita. Antes mesmo de chegar ao seu novo clube, Thiago foi emprestado ao Fluminense. E, em 2011, depois de 46 jogos e 22 gols pelos árabes, foi emprestado ao Flamengo.
O Rubro-Negro conquistou o Campeonato Carioca daquele ano e o meia foi eleito o craque do torneio. No Campeonato Brasileiro, Thiago também teve boas atuações, e o clube da Gávea fez esforços para tê-lo em 2012. O destino do jogador, porém, seria mais uma vez o Fluminense.
Evidentemente, há muitos outros casos de atletas que defenderam dois ou mais dos grandes do Rio de Janeiro. Mas a maioria só brilhou mesmo por um desses clubes.
Um exemplo disso é Edmundo. O ''Animal'', um dos maiores jogadores do Vasco nas últimas décadas, se destacou pouco em suas passagens pelo Flamengo e pelo Fluminense.
Há também alguns poucos que, justamente por terem se destacado com as camisas de dois rivais cariocas, estão entre os grandes ídolos de ambos.
É o caso de Romário. O ''Baixinho'' provavelmente integra o onze ideal de todos os tempos tanto do Vasco quanto do Flamengo (e também fez ótimas atuações pelo Fluminense).
Os quatro nomes cujas trajetórias foram vistas mais detalhadamente neste texto não se encaixam nem em um caso nem no outro.
Por mais que sejam lembrados pelo que fizeram por apenas um grande do Rio de Janeiro, Ademir, Heleno, Carlos Alberto e Thiago também deixaram saudades em um de seus rivais.