Após novamente fracassar em obter a classificação a uma Copa do Mundo, a «roja» se vê diante de um desafiante processo de transição.
Na primeira década do século XX, a seleção chilena não só se classificou a dois Mundiais seguidos como conquistou duas Copas Américas.
Isso fez com que o núcleo daquele grupo de jogadores fosse conhecido como a «geração dourada» entre seus conterrâneos.
Desde então os resultados da roja foram decepcionantes, o que tornou evidente a necessidade de renovação. Mas o quão intenso deve ser esse processo?
Após não conquistar as classificações aos Mundiais de 2002 (quando terminou as Eliminatórias da Conmebol em último lugar) e de 2006 (quando terminou as eliminatórias em sétimo), o Chile entendeu que seu elenco precisava de mudanças radicais.
Foram então que despontaram atletas hoje históricos: o goleiro Claudio Bravo, o lateral-direito Mauricio Isla, o zagueiro/volante Gary Medel, os meio-campistas Charles Aránguiz e Arturo Vidal e os atacantes Eduardo Vargas e Alexis Sánchez.
Graças a esses e outros futebolistas, a roja se classificou aos Mundiais de 2010 e 2014 e conquistou seus dois únicos troféus: a Copa América de 2015 e a Copa América Centenário, de 2016 (em ambas superando a Argentina nos pênaltis).
Dali em diante viu-se um novo período de declínio, com mais duas Eliminatórias Sul-Americanas em que terminaram fora da zona de classificação: nas de 2018 os chilenos foram os sextos colocados, e nas de 2022 os oitavos.
Neste início de ciclo rumo à classificação a mais uma Copa do Mundo, o Chile ainda parece depender de veteranos. A questão é Até quando?.
Dias antes do primeiro compromisso da seleção chilena em 2023, Sánchez (que completou 34 anos no fim de 2022) foi contundente ao dizer «a ''geração dourada'' já é passado. [...] Restam dois ou três jogadores».
O atacante do Olympique de Marseille se referia a Bravo, Vidal e Medel — os três atletas mais velhos (todos com no mínimo 35 anos) convocados pelo argentino Eduardo Berizzo para o amistoso com o Paraguai em 27 de março.
Isso significa que temos agora um Chile renovado? A resposta é claramente não. Como mostrou o jornalista Luis Reyes em matéria publicada no AS, a média de idade do onze inicial que enfrentaria os guaraníes era de 28,8 anos.
Parte do problema é que nenhum dos atletas surgidos na última década triunfou na Europa a ponto de se tornar uma referência para os mais jovens e, consequentemente, dividir o protagonismo com os veteranos.
Com isso não queremos dizer que não está em curso um processo de rejuvenescimento; mas este vem sendo bem mais conservador do que alguns desejariam.
Prévia de amistosos de seleções sul-americanas
Logo após a declaração de Sánchez sobre o fim da «geração dourada», o jornalista e treinador Pablo Ortega publicou um texto opinativo no AS em que defendia um processo de renovação radical.
Em outras palavras, este seria o momento não só de dar adeus aos últimos astros como de dar um voto de confiança a atletas que alguns talvez considerem ainda muito «verdes» para ser titulares dos de vermelho.
Ortega citou quatro futebolistas em atuação na liga chilena: o meio-campista Darío Osorio (19 anos), o meia/atacante Lucas Assadi (19), o atacante Alexander Aravena (20) e o volante Vicente Pizarro (20).
Todos jogam pelas maiores equipes do país (Colo-Colo, Universidad Católica e Universidad de Chile) e até já foram chamados para defender a roja. Mas nenhum parece ser presença certa nas convocações de Berizzo.
Daí se entende o porquê de, para diminuir a média de idade do elenco, a comissão técnica vir fazendo um trabalho de scouting no exterior. Os alvos são futebolistas nascidos em outros países que sejam filhos de mãe ou pai chilenos.
Dos não nativos a maior esperança é Ben Brereton Díaz, nascido na Inglaterra há 24 anos. Filho de pai inglês e mãe chilena, este atacante atuou por Nottingham Forest e Blackburn Rovers, mas em 2023–24 deverá defender os espanhóis do Villarreal.
Outro homem que vem sendo convocado com regularidade é Nayel Mehssatou, nascido na Bélgica há 20 anos. Após anos na base do Anderlecht, este lateral-direito filho de pai marroquino e mãe chilena estreou em 2022 pelos profissionais do Kortrijk.
Algo parecido pode se suceder em breve com o lateral-direito Lucas Lykkegaard, nascido na Dinamarca há 21 anos (sua mãe é chilena), e com o lateral-esquerdo/atacante Josh Drack, nascido nos Estados Unidos há 23 anos (seu pai é chileno).
Mas também houve pelo menos duas tentativas frustradas, ambas envolvendo atacantes americanos. Tanto Sebastian Soto (filho de pai chileno) quanto Robbie Robinson (filho de mãe chilena) foram convocados para representar a roja mas optaram por não fazê-lo.
Outro risco nessa estratégia é o seguinte: Até que ponto um homem que cresceu na Europa ou na América do Norte terá a mesma gana de vestir a camisa do Chile que uma pessoa nascida no país?.
Isso nos traz de volta ao texto de Ortega. Esse colunista reconhece que apostar desde já em Osorio, Assadi, Aravena e Pizarro poderia aumentar o risco de perder mais um Mundial, mas tampouco vê grandes perspectivas na atual mescla de veteranos e calouros.
Sejam quais forem as escolhas de Berizzo para as seis primeiras rodadas das próximas Eliminatórias da Conmebol (entre setembro e novembro), os chilenos esperam ver sua seleção conquistar pelo menos 10 pontos de 18 possíveis (1,67 ponto por jogo).
Derrotas fora de casa para Uruguai e Argentina seriam aceitáveis. Mas, se a roja não obtiver bons resultados em casa contra Colômbia, Peru e Paraguai, a necessidade de um novo rumo para 2024 —dentro e fora de campo— se tornará mais óbvia do que nunca.
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