A adoção de um critério para o uso de estrelas no Brasil pode ter efeitos benéficos no processo de internacionalização da Série A.
[Artigo originalmente publicado em 15 de agosto de 2022.]
No Brasil, não há nenhum tipo de regra (ou mesmo convenção) a respeito do uso de estrelas nos uniformes dos times de futebol.
Alguns clubes preferem valorizar conquistas internacionais, outros conquistas nacionais — e há até aqueles que valorizam conquistas não futebolísticas.
Neste texto, propõe-se uma norma para a adoção de estrelas por parte de equipes brasileiras, inspirada no que é feito em outros países.
Comecemos essa análise abordando o caso mais controverso: o do Palmeiras.
O Verdão tem acima de seu escudo uma única estrela (na cor vermelha) que bem poderia fazer referência ao seu estatuto de maior campeão nacional. Não é o caso.
Tal estrela (incluída pela primeira vez em 2017) faz referência à Copa Rio de 1951, que os paulistas reivindicam como título mundial.
Outro caso curioso é o do São Paulo, com três estrelas amarelas e duas vermelhas acima de seu escudo.
As amarelas lembram os títulos da Copa Intercontinental (em 1992 e 1993) e do Mundial Clubes (em 2005).
Já as vermelhas nada têm a ver com o futebol.
Essas duas estrelas representam as quebras de recorde mundial no salto triplo (em 1952 e 1955) por parte de Adhemar Ferreira da Silva, que era então atleta do Tricolor do Morumbi.
Para terminar esta seção, cabe ressaltar que, nos últimos anos, a tendência é de diminuição ou mesmo não utilização de estrelas.
Entre os clubes que não ostentam mais qualquer conquista acima do escudo estão o Botafogo e o Corinthians.
Em ligas mais tradicionais, é comum observar o critério de uma estrela a cada dez títulos nacionais.
É o que acontece em diversos países europeus, como Itália, Holanda, Bélgica, Romênia e Grécia.
Em outros, como Rússia, Dinamarca, Estônia e Islândia, utiliza-se uma estrela para cada cinco conquistas.
Há também casos mais complexos, como o da Alemanha.
Na Bundesliga alemã, três títulos dão direito a uma estrela, cinco títulos a duas, dez títulos a três, vinte títulos a quatro e trinta títulos a cinco.
O que todos esses exemplos têm em comum é a adoção de critérios bem definidos — e aceitos por todos.
O futebol brasileiro é um caso à parte porque, durante muito tempo, os títulos estaduais tiveram grande importância.
O Flamengo, por exemplo, que hoje ostenta apenas a conquista do Mundial de Clubes (em 1981), antes tinha outras quatro estrelas, referentes aos seus tricampeonatos cariocas.
Hoje, no entanto (por motivo que será abordado adiante), parece-nos mais sensato seguirmos o consagrado critério europeu de valorizar o principal título nacional.
Como o Campeonato Brasileiro é historicamente mais competitivo que outras grandes ligas, não faria tanto sentido adotar o critério das dez estrelas.
Na Itália, por exemplo, devido às suas conquistas de Serie A, três clubes ostentam pelo menos uma estrela: Juventus (três), Internazionale (uma) e Milan (uma).
Se fôssemos seguir tal critério por aqui, apenas o Palmeiras teria uma estrela — e o segundo maior vencedor, o Santos, precisaria de mais dois títulos para chegar lá.
Por outro lado, se cada cinco títulos desse direito a uma estrela, teríamos o Palmeiras com duas, e Santos, Corinthians, Flamengo e São Paulo com uma.
Além disso, Cruzeiro, Fluminense e Vasco estariam a apenas mais um título nacional de sua primeira estrela.
Definido esse possível critério, resta-nos abordar uma última questão: Qual é a importância de tudo isso?.
A adoção de estrelas tendo como base a conquista da primeira divisão nacional ajudaria o Campeonato Brasileiro a ganhar credibilidade e se tornar um produto mais exportável.
Aqui vale lembrar que a IFFHS (Federação Internacional de História e Estatística do Futebol) elegeu a Série A como a melhor liga do mundo em 2021.
Em termos de faturamento, no entanto, o Brasil estava atrás de outras três ligas classificadas como emergentes: a russa, a americana e a turca.
Definir um critério para o uso de estrelas não mudaria isso, mas já seria um avanço nessa direção.
De fato, tudo que possa ajudar a acabar com as controvérsias em relação a algumas edições do Campeonato Brasileiro (principalmente a de 1987) já merece ser levado a sério.
A questão é que, a partir daí, alguns dos maiores clubes do país perderiam o direito de destacar algumas de suas conquistas mais prezadas.
E os que não teriam nenhuma estrela para ostentar precisariam encontrar uma resposta para a seguinte pergunta: Será possível continuar reivindicando o estatuto de grande?.
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