Prestes a decidir a vaga na fase de grupos da Libertadores, o Botafogo ainda busca um treinador.
Ontem, pelo segundo ano seguido, confirmou-se a eliminação do Botafogo no Campeonato Carioca ainda na fase de grupo. Para salvar não apenas este semestre mas o ano como um todo, o alvinegro de General Severiano precisará avançar na Copa Libertadores —com ou sem um técnico efetivo—.
Em 18 de fevereiro o Botafogo perdeu por 4 x 2 para o Vasco, resultado esse que fez com que o glorioso terminasse a antepenúltima rodada da Taça Guanabara fora da zona de classificação à semifinal. No dia 21, o time empatou por 1 x 1 com o Aurora pela ida da segunda fase da Copa Libertadores. Durante a partida o técnico Tiago Nunes foi expulso, e no dia seguinte anunciou-se a sua demissão.
No momento em que Tiago foi demitido, o Botafogo começava a resolver a problemática questão da lateral direita. No início do Campeonato Carioca, Rafael encontrava-se lesionado e o uruguaio Mateo Ponte disputava o Pré-Olímpico Sul-Americano. Rafael segue lesionado, mas Ponte voltou e o clube trouxe outro uruguaio, o experiente Damián Suárez (hoje o titular da posição).
Outra questão que começava a se definir era a dos meio-campistas. Em tese havia duas vagas a serem disputadas por três volantes, mas já ocorreu de todos eles jogarem juntos e o treinador gaúcho começar com o meia Eduardo no banco de suplentes. O camisa 33 reconquistou a titularidade, e agora a dúvida é entre Danilo Barbosa e Marlon Freitas para ver quem será um dos dois volantes. (Tchê Tchê parece ser peça-chave.)
Dias antes que Tiago fosse embora, o Botafogo acirrou ainda mais a disputa por uma vaga no meio-campo ao anunciar a contratação do volante Gregore (Inter Miami); por outro lado, o glorioso segue sem contar com um meia para disputar posição com Eduardo. Além disso, não há um centroavante para pelo menos ser um suplente à altura de Tiquinho Soares; Janderson e Matheus Nascimento poderiam sê-lo, mas não parecem ter agradado suficientemente o antigo treinador. (O clube assinou com Igor Jesus, do Shabab Al-Ahli, que no entanto chega apenas no meio do ano.)
Além disso estão lesionados jogadores que, se fisicamente bem, provavelmente seriam titulares: o goleiro John, o ponta-direita Luiz Henrique e o ponta-esquerda Jeffinho. A ausência de Luiz talvez seja a menos grave (apesar do alto valor investido em sua contratação), porque para a ala direita há Júnior Santos e o venezuelano Jefferson Savarino. Mas a ausência de Jeffinho tem sido um problema desde o último dia 22, quando se anunciou a venda de Victor Sá; e a ausência de John é um problema ainda mais grave, porque o paraguaio Gatito Fernández (um dos maiores ídolos da história recente alvinegra) está em má fase.
Na derrota para o Vasco, a equipe saiu na frente mas levou a virada no primeiro minuto do segundo tempo. Durante a entrevista coletiva após o dérbi, Tiago Nunes disse que seus comandados sucumbiram emocionalmente. Essa falta de força mental foi o calcanhar de aquiles do Botafogo que, no segundo turno do último Campeonato Brasileiro, sofreu viradas impensáveis após o intervalo dos jogos contra o Palmeiras e o Grêmio. E em 2024 a situação vinha se repetindo: dos nove primeiros compromissos da temporada, o fogão sofreu gols nos acréscimos do segundo tempo em três deles (situação essa que se repetiria no jogo com o Aurora na Bolívia).
Daí o porquê de o ex-atacante Paulo Nunes, hoje comentarista do grupo Globo, ter dito após a derrota no clássico com o gigante da colina que o alvinegro de General Severiano precisava de «contratações com perfil de liderança». Ou, para ser mais específico, jogadores «que não se abalem com as coisas que dão errado no jogo». Mas talvez o elenco de 2024 já conte com um atleta apto a assumir esse papel: o zagueiro argentino Alexander Barboza, recém-chegado do Libertad, tem se mostrado muito comunicativo dentro de campo (embora também às vezes se exceda do ponto de vista disciplinar).
Como dissemos, em 22 de fevereiro anunciou-se não só a demissão de Tiago Nunes como a venda de Victor Sá (aos russos do Krasnodar). Esta notícia desagradou e muito aos torcedores, visto que o camisa 7 (um número que significa muito para o Botafogo) vinha sendo o titular na ponta esquerda e tinha qualidade para manter esse estatuto mesmo quando Jeffinho se recuperasse de lesão. (No momento quem tem jogado por esse lado é Savarino, que, como dissemos, é preferencialmente um ponta-direita.)
Quanto à busca por um novo comandante técnico, as primeiras informações apontavam que o proprietário da SAF, o americano John Textor, desejava alguém de perfil ofensivo e de personalidade forte (talvez para compensar a suposta falta de lideranças no elenco). A ideia era que o novo treinador efetivo chegasse antes do jogo de volta contra o Aurora, no dia 28. Não foi o que se viu: Fabio Matias, recém-chegado para exercer o cargo de auxiliar-técnico permanente do clube, é quem tem sido o treinador.
No dia 25, Matias escalou um time misto e venceu por 2 x 0 o Audax pela Taça Guanabara; três dias depois, escalou o glorioso com o que tinha de melhor e venceu por 6 x 0 o Aurora; ontem, com um onze quase todo reserva, sua equipe superou o Fluminense por 4 x 2 pela última rodada da Taça Guanabara, mas acabou fora das semifinais. Nesta quarta-feira haverá o tão importante jogo de ida da terceira fase da Libertadores, contra o Bragantino no Nilton Santos, mas o Botafogo provavelmente chegará a esse compromisso sem técnico efetivo.
O Botafogo pode e vai evoluir quando John, Luiz Henrique e Jeffinho estiverem de volta. Só que, até lá, o time precisará cumprir o objetivo de chegar à fase de grupos da Copa Libertadores. Esse objetivo não será nada fácil, visto que o Bragantino manteve a base do elenco e o mesmo técnico da temporada passada. Mas isso pouca diferença faz tanto para a torcida quanto para John Textor; afinal, foi pensando principalmente na principal competição da Conmebol que o americano contratou todos os atletas que contratou para este primeiro semestre de 2024.